terça-feira, 14 de maio de 2013

Tempestade Oculta

Já fazia uma dezena de viagem desde que eles haviam deixado Acaso para trás. Uma pequena parada na cidade de Essembra durante o Encontro dos Escudos para recolher a recompensa sobre a cabeça do grimlock os rendeu algumas novas histórias e aliados. Linus, um garoto de 12 anos, acabara de se juntar aos demais a pedido de Maja, ainda que contrariada por Markas. "Será responsabilidade sua Maja", disse ele em um tom ríspido.

Enquanto a caravana seguia, Kevan analisava o anel de proteção que havia comprado de Chzandra, uma Maga Vermelha de Thay que passava pela capital durante a celebração. Davos checava seus pertences repetidas vezes, ainda um pouco desconfortável em relação ao encontro com um grupo de artistas de circo que ele poderia jurar terem-no roubado no centro da cidade.

Buran parecia sereno como sempre, mas deixava transparecer a satisfação de ter encontrado novamente o velho Limbo. Todos se perguntavam o que aquele homem estava fazendo lá - e mais importante, como havia chegado à capital antes deles. Eles até haviam recebido dele algumas explicações sobre a misteriosa moeda de prata, mas a incerteza sobre o funcionamento daquele objeto mágico ainda era motivo de inquietação. "Como qualquer moeda, essa serve para fazer trocas - só o que muda é a mercadoria e o vendedor", as palavras do velho ecoavam na cabeça Lira, que fazia truques de mão com a moeda.

Uma tempestade já estava formada acima deles, e a chuva ameaçava cair de uma vez só, como se o céu fosse desabar depois de qualquer vento mais forte. 

Os cavalos pararam.

"Mas que diabos é isso?" Disse Markas com a mão sobre a boca. A caravana havia chegado há uma fazenda que parecia ter sido saqueada não há muito tempo - uma carroça tombada de lado ainda conservava o preguiçoso movimento de uma das rodas no ar, a construção principal, um casarão de três andares havia sido colocado a baixo por fogo, e algumas pequenas chamas ainda queimavam o que havia restado da madeira das paredes. Pelo gramado onde agora os aventureiros pisavam, cerca de uma dúzia de homens jaziam mortos, alguns deles decapitados, as cabeças fincadas em estacas como se fossem sinais de advertência...



Markas se abaixou sobre um dos cadáveres e retirou um virote presos às costas dele. Ele levantou o projetil diante dos olhos, e observou enquanto um filete viscoso de uma substância verde escorria da ponta. "Parece veneno..." Ele deixou escapar uma pequena fagulha de intuição e bom senso. "Veneno drow do sono, com certeza" continuou por ele Veszzyr. "Não há nenhum sobrevivente aqui?" Davos e Buran disseram quase que ao mesmo tempo. "Não. Não há sobreviventes. Pelos menos não aqui." Respondeu uma voz desconhecida vinda de trás do grupo no mesmo momento em que a chuva começou a cair.

Um meio-elfo se revelou saindo das ruínas de uma das construções com um arco composto em mãos. Ele era um homem de traços faciais élficos óbvios, com orelhas pontiagudas, olhos de um verde inumano e a uma pele de discreta coloração cuprina. Por outro lado seu porte físico era pesado e muscular, e uma barba escura e cheia, características que não se encontram no Povo, revelavam sua herança racial humana. Um corselete de couro batido protegia o peito, e algumas placas adicionais serviam como braceletes e ombreiras - exceto no braço esquerdo, o que parecia garantir agilidade ao manusear o arco.

"Se importam de me dizer o que estão fazendo aqui?" Perguntou o meio-elfo de forma destemida colocando o arco em posição de disparo. "Veja, amigo, nos só estávamos passando por aqui. Não queremos problemas." Davos se justificou.
"Ninguém quer problemas nos dias de hoje, mas sempre acaba encontrando de alguma forma, como estes fazendeiros aqui".
"Você viu o que aconteceu nesse lugar?" Lira indagou o estranho.
"Eu sei o que aconteceu aqui. É o suficiente? Minha vez: porque vocês estão acompanhados desse drow?" O arqueiro apontou para Veszzyr com a flecha ainda na corda de seu arco.
"Não se preocupe com ele, é um seguidor de Eilistraee." Davos replicou, e o meio-elfo relaxou o arco em um gesto explícito de confiança.
"Sim...já conheci alguns deles... Me desculpem as precauções. Meu nome é Saevros Altocéu, sou um rastreador de um povoado élfico. Eu estava vigiando um grupo de drows nesses últimos dias, e eles me trouxeram até aqui." O meio-elfo se apresentou.
"Você quer dizer que essa fazenda foi saqueada por drows?" Markas não parecia muito surpreso.
"Eu não diria somente saqueada. Eles vieram aqui por algo mais - escravos. Veja, eu sei para onde os sobreviventes foram levados e nós não temos muito tempo - o que acham de nos juntarmos sem mais amenidades? Talvez possamos fazer alguma coisa por eles." Saevros já pareceia bem mais amigável para alguém que acabara de apontar flechas à cara de seus novos aliados.
"Eu não vou ficar parado de forma alguma enquanto meu povo é levado como escravo por drows." Markas interpelou enquanto oferecia um aperto de mão ao meio-elfo, que aceitou com firmeza o gesto, e então apresentou a Saevros o restante do grupo.

Eles adentraram a floresta e seguiram os passos do rastreador, até que avistaram uma clareira  logo depois de um barranco. Saevros sinalizou para que todos se escondessem no ressalto. Na clareira ficava o acampamento drow para onde os escravos haviam sido levados. Um grupo de seis elfos negros inspecionava duas jaulas - uma delas contendo prisioneiros humanos e elfos, a outra contendo bestas que nenhum deles havia visto antes, exceto por Veszzyr.

"Quaggoths..." murmurou o renegado drow que os acompanhava ao ver as criaturas híbridas de homem e urso negro - uma abominação comum no Subterrâneo de onde ele vinha. A clareira era coberta pelos galhos de uma enorme árvore anciã que se elevava do solo a partir de seu centro, e a única outra estrutura visível era uma tenda de pano. O grupo estava pronto para atacar o acampamento quando mais cinco drows saíram da tenda e iniciaram uma lenta caminhada pela clareira.



"Aillesel Seldarie". Saevros sussurrou "pelo Seldarine" em élfico enquanto eles observavam de longe o acampamento drow. O incomum grupo de cinco elfos negros estava inspecionando os recém-capturados escravos. Um deles cavalgava uma espécie de lagarto gigante. "São os líderes da casa Jaelre. Eu ando observando eles há algum tempo, mas nunca tinha visto todos juntos." Saevros continuou. "Estão vendo aquele ali no meio? O que é manco?" Ele apontava para um drow vestido com uma armadura de couro, que tinha a perna direita manca e firmada por uma bota metálica especial.  "Então, ele é Jezz, O Coxo. Tenho visto ele com mais freqüência fora da floresta, mas normalmente acompanhado de um pequeno esquadrão. Aquele ali à direita é Tebryn." Saevros agora apontava para um drow de cabelos curtos com o rosto repleto de cicatrizes, vestido com um peitoral de aço. "Ele é o líder militar desta Casa... agora aquela mulher à esquerda, acho que não me lembro dela..." Saevros agora falava da única mulher do grupo de drows. É uma elfa esquálida com cabelos aparados em formato quase geométrico, cuja pele de ébano era recoberta por um robe cinza, decorado em sua gola com um chamativo adorno de metal. "Ah... e lá está aquele maldito... Alakdar." Kevros transpareceu seu ressentimento em relação ao drow mascarado que cavalgava o lagarto gigante - a figura sombria que vestia uma armadura de batalha completa e carregava em suas costas uma espada dupla. "É um algoz de Vhaeraun. Ele é bastante jovem, mas Nurkinyan, o principal líder dos Jaelre, tem um grande apreço por ele."

Os cinco drows foram interrompidos quando uma explosão de chamas se manifestou bem diante deles, gerando um densa fumaça negra. O cheiro de enxofre logo se espalhou a partir dali quando a nuvem se dispersou. Nenhum deles foi ferido pela explosão, mas uma criatura demoníaca acabara de se materializar como consequência do evento.

O monstro, que parecia ser um híbrido de drow e demônio, ainda emanava feixes de fumaça das reentrâncias seu bizarro corpo. Sua silhueta era imponente, com mais de dois metros de altura e um porte muscular, as pernas eram curvadas para trás como as de um lobo. Seus braços eram longos e fortes, terminados em garras afiadas. De seu tórax esquelético brotavam outros dois braços menores, com mãos mais finas, mas apenas vagamente humanóides. Os cabelos se estendiam em um chumaço branco para trás da cabeça e rosto parecia ter sido tirado de um pesadelo, com uma mandíbula ferina e olhos bestiais.


 


"Nos encontramos de novo...irmão." Disse o demônio enquanto encarava Jezz, O Coxo.
"Eu vinha me perguntando quando isso iria finalmente acontecer." respondeu o drow.
"Eu venho em nome de nossa mãe...para avisar que Lolth não irá mais tolerar sua rebeldia...entregue-se agora e ainda poderá viver...como um Drider."

"Há! Foda-se Lolth! E cuspo na Rainha Aranha, seu tolo! Acha que ainda me importo com as maquinações da sacerdotisas? Vhaeraun nos mostrou a Noite Acima e nós viemos conquistar esse mundo - coisa que os seguidores de Lolth nunca tiveram capacidade de fazer, de tão ocupados com suas estúpidas lutas!"

"Blasfêmia! Você não me deixa escolha... Vou gostar de arrancar suas vísceras, meu irmão..." O meio-demônio agarrou pelo pescoço o drow, que tinha apenas metade de sua altura. Jezz lutava para se libertar, as duas mãos agarradas tentando abrir os grosseiros dedos da criatura. Sem misericórdia, o demônio desferiu um segundo golpe com a outra garra, atravessando o abdome de Jezz.

O corpo do drow caiu ao chão, mas poucos segundos depois se dissipou em uma massa amorfa de sombras. O demônio parecia surpreso, e, de repente, uma lâmina atravessou o seu peito e ele soltou um urro de dor, cospindo sangue negro pela boca. Chamas infernais incineraram o corpo do monstro de dentro para fora até que sobrassem apenas os ossos. A lâmina foi puxada de volta e o esqueleto vazio da criatura desmontou-se logo em seguida – atrás dele estava Jezz, intacto, segurando um kukri ensanguentado.

"Ahahaha... e eu que pensava que suas ilusões não seriam convincentes para um demônio Belarbreeza!"
"Não subestime o poder da Trama de Sombras, Jezz." retrucou a maga drow.
"Aiai...volte pro inferno irmão, espero que goste da viagem." ele desabafou de forma irônica enquanto balançava a cabeça.
"Não há mais nada para ver aqui, estaremos bem contanto que seus homens façam o trabalho deles Tebryn... Belarbreeza, nos leve devolta à Corte Élfica, precisamos conversar com Nukinyan." A maga Drow ouviu as ordem de Jezz, e apenas fez um pequeno gesto com seu cajado - em seguida houve um lampejo de energia mágica e os cinco drows desaparecem.

Os líderes da Casa Jaelre haviam ido embora, mas o grupo ainda precisaria lidar com o bando de drows que vigiava o acampamento se quisessem resgatar os escravos. "Vou usar magia para enredar esses drows com cipós, preparem-se para atacar" Davos sussurrou para seus companheiros. "Só me diga quando" Pediu Saevros preparando o arco com duas flechas ao mesmo tempo. "Não! Esperem, eu tenho uma idéia!"

A ladina Maja deixou os outros sem que tivessem tempo de impedi-la. Ela se esgueirou por de trás do barranco, ocultando-se entre os arbustos que cercavam a clareira e foi até a jaula dos Quaggoths. Sem que nenhum dos inimigos percebesse sua presença, ela começou a trabalhar sobre o trinco da gaiola com seus instrumentos de ladra. Um clique foi ouvido e o cadeado caiu no chão. Maja entreabriu a jaula para que as bestas percebessem que estavam livre, e quase foi esmagada pela porta quando os três monstros a empurraram para o lado, saltando para fora furiosos e sedentos de sangue.

Eles investiram em direção aos drows emitindo urros assustadores, batendo suas mãos contra o peito e mostrando suas garras. Um dos elfos negros percebeu a aproximação e gritou alertando os outros, mas já era tarde demais quando ele próprio decidiu se virar novamente em direção aos Quaggoths - uma das bestas saltou sobre ele e com um golpe de sua garras transformou seu rosto em uma máscara de sangue e carne dilacerada.

Os outros cinco drows, dispararam conjuntamente suas bestas de mão em um dos monstros - ele emitiu um rugido ensurdecedor quando os cinco virotes o atingiram bem no peito. Os drows esperavam que o veneno sonífero fizesse algum efeito sobre a criatura, mas foi em vão. O Quaggoth, agora ferido, se lançou sobre um dos drows e  o deu uma morte rápida e brutal, partindo o elfo negro ao meio pela cintura.

Outros dois drows se juntaram na tentativa de flanquear o Quaggoth que agora estava ao seu lado. Eles puderam ouvir os gritos de seus comparsas atrás deles enquanto eram mutilados pelos outros dois homens-urso do Subterrâneo. Um dos drows lançou-se sobre o Quaggoth ferido com um sabre em mãos, mas foi arremessado a metros dali por um golpe furioso da besta, o outro aproveitou a oportunidade, trespassando o pescoço da criatura com seu sabre. Ele derrotou um dos monstros mas não teve chance contra os outros dois que haviam acabado de matar seus aliados.


"É, acho que funcionou". Disse Lira em tom irônico ao observar o caos desencadeado pelas ações de Maja. "Vamos, agora!" Buran deu o comando ao resto do grupo, ao ver que agora Maja se aproximava para apunhalar um dos Quaggoths pelas costas. Davos e Markas acompanharam o anão enquanto ele descia em direção aos monstros, enquanto Saevros, Lira e Kevan permaneceram em cima do barranco disparando flechas e magias nos inimigos. 

Saevros disparou duas flechas, que atingiram quase que simultaneamente o peito de um dos Quaggoths, ferindo-o gravemente. Maja, que ainda se esgueirava por trás do inimigos, chegou perto o suficiente para desferir um ataque preciso nas costas de um dos Quaggoths. A criatura urrou de dor e se virou, desferindo um contra-ataque com uma das garras no pescoço da jovem. A ladina caiu de costas, as duas mãos apertando os ferimentos lineares que acabaram de ser rasgados em sua pele, na tentativa de estancar o sangramento e aliviar a dor lancinante.

Buran chegou neste momento, e em um golpe ascendente acertou seu punho cerrado bem no queixo do Quaggoth, fraturando a mandíbula do homem-urso com força suficiente para incapacitá-lo.

Ninguém havia percebido aonde Linus havia se colocado em meio a confusão, já que Maja havia dito ao garoto para não se meter no combate - até que dois virotes vindos de cima atingiram o crânio do Quaggoth remanescente -  o primeiro deles ferindo e desorientando a criatura, e o segundo executando-a ao acertar-lhe um dos olhos. Todos olharam para cima surpresos, e encontraram o garoto pendurado em um dos galhos da enorme árvore. Ele sorriu para seus amigos enquanto recarregava sua besta leve com um novo virote.

O grupo correu em direção a Maja para ajudá-la, mas quando chegaram perto da ladina, viram que ela já empunhava a varinha de curar ferimentos leves, que haviam adquirido da clériga drow na torre de Dracandros. Com um mero toque da varinha, um brilho dourado cicatrizou instantaneamente os rasgos na pele da jovem, e ela se pôs de pé logo em seguida com a ajuda de seus aliados.

O grupo libertou os escravos, que os agradeceram veementemente pelo resgate. Saevros reuniu os elfos que estavam entre os prisioneiros, e depois se dirigiu aos aventureiros que o acompanharam. "Em nome de meu povo, eu os agradeço, aventureiros!"
"Foi uma honra para nós" Davos respondeu.
"Suas ações hoje foram muito importantes. Nosso povoado protege antigos portais élficos em Cormanthor que estão interligados a diversas partes da floresta e a outros Vales - somos nós quem os impedimos de cair em mãos erradas. Saibam que a partir de hoje, vocês serão bem vindos em nossa casa, contanto que isso fique entre nós."
"Igualmente, se precisar de alguma ajuda em Vau Ashaben, me deixa saber." Markas retribuiu a gratidão.
"Ah, sim. Eu costumo passar pelas cidades humanas para trocar peles de animais. Quem sabe não nos encontraremos lá no futuro?"

Os escravos humanos retornaram à fazenda, com a promessa de Markas de que ele iria avisar as autoridades do Vale da Névoa. Depois disso, o grupo se despediu de Saevros e dos elfos, que desapareceram em meio as árvores, e em seguida partiu em direção à capital, Vau Ashaben, que já era visível no horizonte..."


7 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi bicho

      Tristemente não poderei, os curtas estão entrando em reta final e ta vindo reunião de emergencia a torto e adoidado. Também não poderei jogar dias 25/26.

      Os finais de semana seguintes to livre.

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    2. Tranquilo camarada. Quando puderem jogar me deixem saber. Ficarei no aguardo. Grande abraço!

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  2. Esse sábado estou livre.

    como estamos de horários?

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    1. Eu, Ivan e Leo podemos neste sábado. Precisamos confirmar com Marcelinho, Pedro, Lucas e Elisa. Por mim podemos começar depois do almoço, às 13:00h.

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  3. então teremos um jogo,

    Pedro

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  4. Oi gente

    perdão, me ligaram agora para uma reunião este sábado.

    Maus pelo falso positivo. Cuidem bem do Davos.

    Abraços!

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