terça-feira, 25 de agosto de 2015

Ito, Santo da Espada



Os passos precisos do grande gênio da terra.

Mãe África engravidou em Angola, partiu de Luanda e de Benguela, chegou e pariu a capoeira, no chão do Brasil, verde e amarela. É de Angola! Camará que me veio essa cantiga. De Luanda! É um jogo, é uma dança é uma briga. De Benguela! Do Quilombo da Serra da Barriga. De Luanda! Capoeira chegou de caravela.


Eu vi os passos precisos do gênio da terra. Sua expressão de desdém e enfado, seu apoiar cansado na bainha da katana. Mas o desleixo do jovem não engana meus olhos experientes: “Mestre, vim lhe desafiar”.

Ele boceja. Seu corpo balança para o lado como se fosse cair, e então, apoia-se com um pé e retoma o equilíbrio rapidamente. Um breve sorriso toma conta do seu rosto. Nem todos podem ver o sorriso que dura uma fração de segundo antes do disparo. O saque da espada não apresenta erros, a katana sai da bainha como uma flecha larga seu arco, sem despedidas, sem pesar, sem piedade. Será que ele pensa em como deixou sua terra? Não. Ele não pensa em nada.

“Você me acertou. Seu pai ficaria orgulhoso”.

Eu sou o segundo discípulo do venerável Oda, santo da espada, cujos olhos contemplam Kosuko Bosatsu. Quando o filho do mestre Oda, Ito, saiu de casa levando apenas sua espada, o santo permaneceu em silêncio e sua paz não foi abalada. Mas eu decidi encontrar o jovem mestre Ito, para entender sua partida. Em nosso encontro ele me acertou pela primeira vez e fez sangue escorrer do meu ombro. “Não esqueceu a arte do seu pai, lembra-se de quem você é?”

Ito: Não me enche Kazuma. Parece minha mãe.
Kazuma: A venerável feiticeira Kuan Yin – saúdo a era que ela traz –, em sua beleza e sabedoria, tem razão em se preocupar com o jovem mestre.
Ito: Blá blá blá. Você não pode ir comigo, Kazuma. Eu vou beber demais, transar demais e fazer coisas vergonhosas, nada que seja do seu feitio.
Kazuma: Eu juro pelos nove anciões bêbados que eu serei uma boa companhia para o jovem mestre e não me negarei a fazer coisas vergonhosas.

Nesse momento, levei meus joelhos e olhos ao chão. Eu buscaria com o jovem mestre a humildade terrena e seguiria os passos precisos do grande gênio da terra. Lagrimas verteram dos meus olhos ao pensar nos testes que me aguardavam.

Kazuma: Mestre Ito? Espera! Ainda não terminei minhas orações! Mestre Ito!


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