Eles seguiram o som dos tambores pelo túnel até o que parecia ser a sala principal da antiga fortaleza Drow. Lá meia-dúzia de goblins, ainda sem perceber a presença do grupo, dançava em torno de uma enorme fogueira. Um deles, que usava vestimentas de xamã, tinha em suas mãos um livro e arrancava dele páginas atirando-as ao fogo, cada uma delas se desintegrando em pequenas labaredas verdes ao tocar as chamas.
Sem perder tempo, Buran investiu para dentro da sala. Os outros se entreolharam, surpresos com o anão.
– Ulfur! – Bradou Davos sem mais pensar, e o lobo correu em direção aos goblins, logo atrás de Buran.
O lobo avançou sobre o xamã e o sobrepujou, mas o Goblin agarrava-se aos pelos do animal, tentando evitar ser abocanhado pelas presas afiadas. Os outros aventureiros logo se juntaram ao conflito, mas mantiveram uma certa distância. Lira disparava o arco que acabara de encontrar com os Mites, já Kevan alternava disparos de besta com flechas ácidas que materializa através de suas magias. Os goblins se moviam rapidamente entre os alvos na sala, a maioria deles se amontoando sobre Davos e Buran. O monge anão se mantia resoluto mesmo em desvantagem numérica e rodeado – seus golpes eram imbuídos de precisão e força – seus punhos relâmpagos em uma tempestade de fúria e disciplina marcial. Os goblins eram incapazes de atingir o anão, frequentemente recebendo em troca de cada espadada um ataque incapacitante. Os aventureiros jamais haviam visto alguém lutar dessa forma antes.
Lira foi encurralada em um canto por um dos goblins, mas com um único movimento, a jovem sacou seu sabre e aparou um ataque do inimigo.
Ulfur ainda tentava finalizar o xamã que prendia sob suas patas, mas através de alguma feitiçaria o goblinóide materializou uma pequena bola de fogo em sua mão direita, e em seguida comprimiu a chama contra a cara do animal. O companheiro de Davos emitiu um ganido e se arrastou para longe do agressor. Aquela queimadura iria deixar uma cicatriz bastante feia.
Davos golpeava furiosamente com seu enorme machado, mas na maior parte do tempo os goblins o evitavam com facilidade. Ao perceber que Ulfur corria perigo, o meio-orc pareceu adquirir maior concentração e em questão de segundos haviam dois goblins a menos para contar história.
Buran tratou de finalizar um goblin com um gancho bem colocado no queixo. Todos puderam ouvir o estalar dos ossos da criatura quando ela atingiu o chão a quase dois metros dali. Outro goblin e também o xamã não ofereceram problemas ao monge – antes que a criatura pudesse atacar novamente com uma daquelas bolas de fogo, ela já tinha sido epurrada com uma ombrada para dentro da fogueira no centro da sala.
Um último goblin, aquele que encurralava Lira, tentou fugir em direção a uma porta ao se ver em desvantagem numérica. A jovem disparou seu arco para impedir o fujão mas errou o alvo. Com um segundo disparo o pequeno monstro verde não teve tanta sorte e foi pregado contra a porta pela flecha da barda.
Eles descansaram por alguns momentos, cuidaram de seus ferimentos (em especial os de Ulfur), pilharam os corpos, e seguiram até a próxima sala. Para a surpresa de todos, no centro do cômodo havia um garoto de cabelos castanhos caído ao chão. Um detalhe preocupava o grupo: porque a criança estava rodeada de goblins carbonizados? Era um dos órfãos, sem dúvida, e ele parecia inconsciente. Kevan sacudiu o garoto, e ele logo despertou.
– O que aconteceu? Cadê o Olryck? – Perguntou o menino de nove anos enquanto coçava os olhos.
– Qual o seu nome garoto? – Perguntou Lira.
– Meu nome é Ildir, cadê meu irmão?
– Estamos procurando por ele. Você sabe o que aconteceu aqui? Lembra de alguma coisa? – Disse Kevan.
– Eu não lembro direito... Agente foi até a torre, e o Olryck me fez roubar o livro daquele mago enquanto ele dormia. Ele disse que se eu não roubasse eu era um maricas, e que agente ia precisar de um livro de magia pra enfrentar o Carrasco. Eu peguei o livro e agente desceu por aquela caverna...
– E esses goblins? Você sabe o que aconteceu? – Perguntou Davos de forma desconfiada.
– Não...acho que não. Ah! Eu lembro que eu e o Olryck chegamos numa sala onde tinha uma fogueira, aí esses monstrinhos verdes vieram atrás da gente... – Ele coçava a cabeça tentando se lembrar de mais detalhes – O Carrasco! É, o Carrasco! Ele pegou meu irmão lá naquela sala! Eu corri, mas aqueles monstros me seguiram. Eu acho que eles também estavam com medo do Carrasco...
– Só isso? – Insistiu Davos.
– É acho que eu não me lembro mais de nada não.
Eles discutiram algum tempo entre si, decidindo como proceder. Kevan tentou analisar Ildir e percebeu uma aura mágica de evocação quase palpável. Se o garoto tinha ou não ciência de suas capacidades, dúvida levantada por Davos de forma desconfiada, seria difícil e dispendioso dizer agora. O grupo resolveu continuar – Ildir seguiu com eles e Lira deu ao garoto seu arco.
– Você sabe usar isso?
– Meu irmão me ensinou a caçar uma vez, acho que dá pra tentar.
Nessa sala também havia também uma fonte com a escultura de uma aranha com sete pernas. Alguma coisa estava gravada na parede, mas os aventureiros preferiram ignorar esse detalhe até que investigassem a sala ao lado.
Passando por um portão de grades de metal, eles chegaram a um alojamento. Não havia muito para se ver lá, somente algumas camas de madeira pôdre, colchões mofados e os restos mortais dos antigos habitantes do forte. Davos não conseguiu se conter e retirou da parede um mapa da fortaleza. Assim que seus grosseiros dedos tocaram o papiro, três esqueletos se levantaram do chão animados por algum tipo de magia profana.
O grupo se defendeu prontamente, mas Kevan e Davos, após alguns ataques falhos, perceberam que virotes e lâminas pouco poderiam fazer contra aqueles mortos-vivos sem carne. Um dos esqueletos tentou contra-atacar Davos, mas o druida ergueu seu machado acima da cabeça bem a tempo de bloquear o golpe, despedaçando a velha cimitarra do esqueleto contra o cabo da arma.
Kevan concentrou-se, formando uma esfera de energia arcana em suas mãos. O mago apontou o dedo em direção a um esqueleto e a esfera de luz azul brilhante atravessou a sala velozmente, praticamente desintegrando a criatura ao atingi-la.
Em um golpe único de seu punho esquerdo, Buran despedaçou o último esqueleto. Fragmentos de ossos e pó voaram sobre Davos. O meio-orc apenas emitiu um rugido ao ouvir as risadas de seus colegas.
Revistando o que havia sobrado dos esqueletos, Lira encontrou uma escultura na forma de uma pata de aranha. Havia uma indentação em uma das extremidades.
– Deve ser uma chave. – Disse Davos, mantendo seu tom irritado, e todos concordaram.
Eles retornaram à sala anterior e seguiram até a fonte.
"Manto de teia farpada
Sangue, carne, e entranha
Que reste somente a ossada
Daquele que não mostrar façanha
E por Lolth levantemos a espada
Ó, cruel e gloriosa Aranha"
As ominosas palavras gravadas sobre a fonte dedicada à deusa dos Drow fizeram o grupo discordar novamente sobre como proceder. Na falta de um consenso Lira deu um passo à frente e examinou mais uma vez a estátua: era a figura de uma aranha de sete pernas com a cabeça de uma Drow. A barda respirou fundo e inseriu na escultura a pata da qual a aranha carecia. Um breve clique foi ouvido assim que a indentação da chave encontrou seu receptáculo, e Lira puxou a oitava pata da aranha para baixo feito uma alavanca. As paredes rugiram, a fonte de pedra estremeceu, e minúsculos deslizamentos de poeira foram soprados do teto logo acima, se desfazendo em pequenas nuvens logo depois. A fonte girou para o lado e revelou uma passagem secreta.
Era um uma espécie de laboratório de alquimia que aguardava no outro lado da passagem. Duas mesas repletas de fracos empoeirados contendo líquidos coloridos e reluzentes estavam encostadas de cada lado da sala. Logo à frente, após um lance de três degraus havia um altar de mármore, sobre ele jazia uma pessoa deitada. O grupo decidiu averiguar de perto do que se tratava – era um Drow que repousava sobre o mármore.
O elfo negro extremamente emagrecido, de cabelos longos e desgrenhados, estava coberto por uma espécie de teia escura e ondulante que parecia quase viva. Em uma estante ao lado, frascos de veneno decoravam as prateleiras. Ele respirava superficialmente e tinha os olhos abertos como se imerso em um transe. Os aventureiros se entreolharam, opinaram, e decidiram libertar o Drow, pelo menos para ouvir o que o ele tinha a dizer.
– Vou cortar essas teias. – Se pronunciou Kevan, antes de levar sua famigerada adaga até as teias demoníacas. Assim que a lâmina tocou a substância, ela retraiu um pouco para o lado oposto. Kevan permaneceu imóvel e apenas levantou o olhar em direção a seus companheiros, como se esperasse algum tipo de consentimento. Houve somente alguns segundos de silêncio, e o mago continuou o que havia começado.
Assim que as teias foram cortadas um guincho aracnídeo pôde ser ouvido – sem dúvida aquelas coisas estavam vivas. O Drow se levantou gritanto como se despertasse de um pesadelo, arrancando desesperadamente de sua pele o que havia restado das teias negras.
– O que vocês fizeram comigo seus malditos!? – Gritou do Drow.
– Nós? Acabamos de te salvar, só isso. – Respondeu Lira.
– ME DIGAM...porque vocês me libertaram?
– Nós fazemos as perguntas aqui. Porque VOCÊ estava preso nesta sala? – Davos foi incisivo, mas o Drow decidiu reagir em defesa própria ao perceber a atitude do druida. Ainda sentado no mármore e nu, ele se levantou e levou a mão direita até chão ao lado do altar, onde lembrava ter sido colocada sua besta. Ele empunhou a arma carregada, apontando-a em direção ao meio-orc. Buran, que mantinha apenas uma expressão mista de desgosto e suspeição desde o início da conversa, foi mais rápido e atingiu o Drow com um soco bem no meio do peito. O elfo cambaleou sem equilíbrio, chocou-se contra uma parede e então caiu de joelhos ao chão, o ar tendo-lhe abandonado os pulmões.
– Precisamos perguntar de novo? – Disse Davos, agora com um incomum tom de sarcasmo.
– Responda uma coisa Drow, você segue a Aranha? - Um tom sagás temperava a pergunta de Lira.
– Não mais...mas é uma longa história...posso explicar depois. Agora quero...somente sair desse lugar. Talvez...vocês possam...me ajudar. – O Drow falava com dificuldade entre cada arfada, ainda ajoelhado e com uma mão sobre o peito.
– Você quer vir com agente? – Kevan parecia um pouco surpreso.
– O quê!? Não podemos confiar nele! – Davos manifestou sua opinião com fervor.
Lira apenas virou a cabeça, jogando seus cabelos vermelhos para o lado em um gracioso movimento.
– Vocês não percebem? Ele é um renegado. Foi trazido até aqui para receber uma punição de Lolth. Nem todos os Drows são iguais, não sabiam? Ou nunca ouviram as histórias de Drizzt... – Ela suspirou com impaciência. – Além disso ele provavelmente sabe mais sobre essa fortaleza do que nós.
– Deixa ele vir com agente, ele não é mau. – Ildir pediu inocentemente aos outros.
– Humpf... Muito bem, talvez ele possa nos ajudar a encontrar Olryck. – Falou Davos.
– Contanto que eu consiga sair daqui, está tudo bem por mim.
– Como você se chama? – Lira perguntou.
– Meu nome é Veszzyr. – O Drow se apresentou ao grupo, recebendo em troca o nome de cada um dos aventureiros. Ele revirou as estantes a procura de suas roupas, mas encontrou apenas farrapos empoeirados de um robe. O Drow sacudiu a vestimenta e então se arrumou. Ele verificou o funcionamento da besta de mão, e carregou novamente a arma com um virote.
O grupo retornou à sala principal da fortaleza. Procurando por Olryck, Davos conseguiu rastrear pegadas até uma das portas, mas antes que o grupo pudesse dar continuidade, foram surpreendidos barulhos vindos de uma pequena sala adjacente. Uma mulher, ajoelhada e de costas para o grupo, manuseava um pequeno baú de madeira. Ela tirava de seus bolsos alguns grampos e ferramentas de metal.
Ao perceber a aproximação do grupo, a humana se virou revelando um rosto angelical.
– Fiquem onde estão! Não vou avisar duas vezes! – Disse a jovem ao sacar suas espadas curtas.
– Fique calma, nós não queremos problemas. Estamos apenas procurando pelos órfãos. – Kevan se adiantou.
– Vocês não vão querer problemas comigo, tenho certeza. – A garota ameaçou-os com um sorriso no canto da boca.
– Estamos aqui procurando pelas crianças, só isso.
– As crianças? Ah, sim...as crianças! Eu também estou aqui por isso.
– Nós encontramos um dos garotos, o nome dele é Ildir.
– Muito prazer senhorita! – O pequeno se apresentou.
– Achamos que o irmão dele foi levado pelo Carrasco. – Continuou Kevan.
– Devo ter chegado antes de vocês então. Encontrei esse rapazinho na sala ao lado e fui trancar a porta do corredor para que nenhuma criatura encontrasse ele.
– Você sabe alguma coisa sobre aqueles cadáveres queimados? – Disse Davos.
– Não...quando cheguei até lá eles já estavam daquele jeito. Os outros goblins estavam com medo de entrar naquela sala por causa disso, eu acho.
– Nós também estamos procurando o Carrasco. Que acha de nos juntarmos? Podemos dividir a recompensa pelo monstro. – Lira estendeu a mão.
– Boa idéia! Dividiremos também todos os tesouros, certo?
– Certo. Mas gostaríamos de saber o nome da pessoa com a qual vamos dividir nossos espólios. – Lira negociou.
– Vocês podem me chamar de Maja. – A ladina apertou a mão da barda.
– Acho que podemos começar dividindo as coisas agora para sermos justos. O que você encontrou nesse baú? – Disse Buran em nome do grupo.
– Não muita coisa, só esses frascos de fogo alquímico... – A ladina tentou ocultar um frasco em especial, do que seria mais tarde rotulado de "Bafo de Dragão" pelo mago Kevan, mas os olhos de Buran foram mais ágeis do que os dedos de Maja. Novamente o anão não pensou muito e acertou uma feroz cabeçada no estômago da ladra. A moça foi empurrada mas mostrou certa destreza para evitar que o frasco se espatifasse no chão. Ela certamente iria se lembrar do par de costelas magoadas da próxima vez que tentasse roubar seu nada tolerante companheiro.
– Tentando nos enganar, sua ladra! – O anão disse de braços cruzados e em tom irritado. – Agora, podemos dividir as coisas e nos ajudar? – Buran continuou, descruzando os braços e estendendo uma mão à Maja. A ladina aceitou a ajuda e respondeu.
– É assim que você se apresenta a todos os seus amigos?
– Por incrível que pareça, sim. – Interpelou Veszzyr.
O grupo resolveu deixar as diferenças para serem resolvidas mais tarde, e terminaram de investigar a sala. Por segurança Davos decidiu carregar consigo o Bafo de Dragão.
Adiante havia uma imponente porta de aço adornada, mas ela parecia estar emperrada. Várias imagens e mensagens élficas decoravam o portal.
– Interessante...acho que posso decifrar essas mensagens se me derem algum tempo. – Kevan demonstrou sua curiosidade, ao que Davos respondeu:
– Você não consegue ler? Está escrito "inimigo poderoso à frente"! – Foi um raro momento de descontração quando todos riram do meio-orc.
Eles retornaram ao salão principal e continuaram a seguir os rastros de Olryck.
A sala seguinte estava despedaçada. Uma enorme rachadura percorria as paredes, o teto e o solo, como se o cômodo tivesse sido segurado por duas mãos gigantescas e partido ao meio como um pedaço de pão. Uma pesada porta de metal havia sido arrancada do batente e utilizada como ponte sobre a ravina no chão. Quem quer que tivesse sido reponsável por isso devia possuir uma força descomunal.
– O Carrasco... – Murmurou Davos. Ao ouvir as palavras preocupadas do druida, Veszzyr se preparou, e invocou seus poderes mágicos para criar em torno de si um campo de força. Não seria tão fácil trespassar uma
armadura arcana.
O grupo continuou. O corredor que era a única saída dessa sala estava em parte colapsado, e, a partir de certo ponto, se transformava em um novo túnel cavernoso. Alguns passos adiante e o grupo se encontrava em uma câmara ampla. Um rio subterrâneo nascia de uma das paredes rochosas e percorria em direção ao Sul. Nodos de brilho verde eram refletidos pelas laterais do riacho. Kevan se aproximou da borda e tocou a água.
– Dularuna. – Disse o Mago.
– Dularu-oquê? – Perguntaram os outros, quase em coro.
– Depósitos de Dularuna. Sente a temperatura fria da água? Quero dizer, é um metal alquímico com propriedades mágicas criogênicas. Acho que um ferreiro competente poderia usá-lo para fabricar alguns itens interessantes. Mas retirar esses nodos vai precisar de um tempo que nós infelizmente não temos no momento.
Todos concordaram. O único caminho a seguir era aquele percorrido pelo rio subterrâneo. A câmara seguinte provocou choque e náusea nos aventureiros. O chão estava repleto de ossos – dezenas, talvez centenas deles – e certamente goblins e mites não poderiam ser responsáveis por isso. O fundo da sala estava escuro demais, mesmo para Buran, Davos e Veszzyr, que eram capazes de enxergar na escuridão.
– Vou chegar mais perto. Buran, você vem comigo? – Disse Davos.
– Não temos muita escolha. – Murmurou o introspectivo anão.
Os dois aventureiros se moveram furtivamente, seus aliados na retaguarda segurando tochas. Mais três goblins estavam agrupados lado a lado de costas ao heróis, mais eles não estavam sozinhos. Os pequenos goblinóides seguravam por correntes uma criatura maior. Parecia ser um cachorro – ou seria um rato super-crescido? Talvez os dois? O cão goblin revirava com o focinho um cadáver ainda fresco. Ele abocanhou o abdome do defunto, puxando as vísceras para fora e então sacudindo as tripas de um lado ao outro em um banho de sangue.
Davos sinalizou para que os outros prosseguissem silenciosamente e eles o fizeram. A ladina Maja se aproximou, evitando pisar no riacho com um salto acrobático. Buran e Davos tentaram fazer o mesmo. Os três se entreolharam e em um mútuo e silencioso consentimento, que se limitou a um menear de cabeça, o emboscada se iniciou.
A ladina ergueu suas espadas vagarosamente, e como as presas de uma serpente as duas lâminas foram cravadas nas costas de um dos goblins sem que ele tivesse tempo de reagir. Davos e Buran também não decepcionaram, cada um finalizando um alvo. Restava apenas o cão goblin. Veszzyr mirou com sua besta de mão e deu um tiro certeiro, acentuando o animal comum virote envenenado bem no ombro. O veneno Drow, entretanto, foi insuficiente para deixar a criatura inconsciente.
– Deixem ele comigo! – Davos pediu aos companheiros. Lira entendeu o recado, e preparou uma magia – estendendo uma das mãos em direção à criatura, a barda gritou "Pasmar!". Um breve estalido foi ouvido, e o cão goblin parecia ter ficado desorientado, sacudindo a cabeça de um lado ao outro.
Nesse momento Davos se aproximou, levantando os braços para o animal. A criatura parecia intimidada com o enorme meio-orc, andando para trás com o rabo entre as penas e rosnando agressivamente. Assim que se aproximou o bastante, ele colocou uma das mãos sobre o focinho do cão, e o rosnado bizarro foi dando lugar a ganidos de submissão.
Davos removeu o virote preso ao ombro da cão goblin e retirou dele as guias.
– Não se preocupem, tenho tudo sobre controle. – Os outros só puderam esperar que ele soubesse o que estava fazendo.
Quando o sangue esfriou eles tentaram identificar de quem era o cadáver no chão – tratava-se de um dos guardas de Acaso, com certeza, mas o pobre homem havia sido mutilado com uma arma pesada antes de virar comida de cão goblin. Era péssimo, mas não havia mais o que fazer, se não conceder a ele um funeral adequado mais tarde.
Seguindo o trajeto do riacho pelo túnel, os aventureiros chegaram ao lugar que procuravam. Lá estava diante deles O Carrasco, cortando com seu enorme machado um goblin que acabara de apanhar. Em um dos cantos da sala, uma gaiola tombada prendia em seu interior um garoto, Olryck, que seria a próxima vítima do monstro...